Várias pessoas com quem cruzei o caminho hoje vieram externar sua indignação com a absolvição da filha do Joaquim Roriz, acusada de quebra de decoro parlamentar por ter saído com R$ 50 mil na calcinha, envolvida no mensalão do DEM, no Distrito Federal.
A gente se indigna com isso porque pensamos que nossos representantes no Congresso, na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal deveriam ter, por princípios, uma conduta impecável para legislarem em benefício de toda a sociedade.
Passei algumas horas pensando nisso para achar um posicionamento adequado, porque alguém vai me questionar novamente a respeito desse episódio e de outros correntes. Com o pouco de conhecimento que tenho Filosofia, lembrei-me de duas palavrinhas complicadas de explicar para as crianças: “ética” e “moral”. Confesso que até hoje não sei bem o que é “ética”, mas “moral” conheço bastante. Perante o Congresso que está estabelecido hoje em Brasília, é imoral mentir descaradamente, não ter fidelidade filosófica e partidária, agradecer dinheiro de campanha com favores públicos, manipular editais para beneficiar amigos, viajar em jatinho de empreiteira, legislar em benefício próprio, reforçar o corporativismo, indicar amigos para ocupar cargos públicos importantes etc. etc. etc.? Não, nestas instâncias legislativas isso está absolutamente dentro do conjunto de regras morais que boa parte deles segue na sua vida cotidiana. É só rever o discurso da deputada Roriz em sua própria defesa ontem no plenário da Câmara.
Mas, por que eles foram eleitos? Essa é uma pergunta cuja resposta poucos se arriscam a dar. Não seria porque nós quisemos que fosse assim? Essas pessoas nessas três instâncias não são nossas representantes? Usando um pouco de lógica, se essas pessoas foram eleitas para nos representar é porque nós assim quisemos. Assim é a democracia. Se elas tem esse comportamento imoral é porque nós assim permitimos. E se nós assim permitimos é porque somos iguaizinhos a eles. Se eles são imorais é porque nós também somos imorais.
Perante a lei, roubar é uma coisa só. O que muda é o grau do roubo. Portanto, usando a lógica, roubar um pedaço de carne para matar a fome é a mesma coisa que roubar a merenda escolar para comprar uma casa na Flórida. O que muda é a intensidade do que é roubado e a quantidade de pessoas prejudicadas. Dar uma caixa de bombons em agradecimento a um documento público conseguido mais rápido que o procedimento normal é a mesma coisa que dar um carro em agradecimento por um edital manipulado numa licitação de construção de estrada. O nome disso é corrupção.
O problema todo é que estamos acostumados a termos comportamentos imorais todos os dias, em maior ou menor grau, e nós mesmos fazemos vista grossa para isso em nós e nos outros. “Não cobro de você e você não cobra de mim”. “Todo mundo tem telhado de vidro”! A degradação da educação na célula familiar é consequência direta disso. Alunos batendo em alunos; alunos batendo em professores; pais batendo em professores; pais batendo em pais. Os exemplos se amontoam todos os dias nos noticiários e nas ruas. Bullying e problemas psicológicos para todos os lados.
Torço todos os dias para ver o Alexandre Garcia, o Boris Casoy, o Joelmir Beting e todos os respeitáveis jornalistas, que nos falam através da mídia todos os dias, mostrarem o “jeitinho brasileiro” e a “vantagem” como imorais, porque eles são a base de toda a corrupção que assola nosso país. Se isso, por um milagre acontecer, então teremos a chance de recolocar a educação no seu devido lugar e começarmos a construir um futuro diferente para este país. Até lá, se indignar para que?
31/08/2011