Assisti recentemente ao filme “A Rede Social”, de David Fincher, que conta a história da criação do Facebook, idealizado e executado pelo gênio da computação Mark Zuckerberg ou MZeus, como o chamarei aqui.
Após assistir ao filme, procurei ver a crítica na internet, porque não li nos créditos nada que me desse a certeza de que ele havia contribuído no script. E a crítica confirmou que ele não participou em nada na feitura do filme e nem comentou nada a respeito do argumento.
Quem conhece um pouco de relações públicas sabe que é melhor não comentar nada mesmo, porque qualquer comentário pode ter múltiplas interpretações, e aí a coisa fica sem controle. MZeus tem razão em não se pronunciar sobre sua biografia não autorizada, retratada no filme.
É uma pena que ele não tenha se posicionado em relação ao argumento do filme, porque o quadro pintado dele é de uma pessoa com caráter duvidoso. Quanto às obras cinematográficas, é bom lembrar, nunca são um retrato fiel da realidade onde se basearam e, como se diz no popular, “quem conta um conto aumenta um ponto”. É possível que nem todos os fatos sejam verdade. No entanto, quem cala consente. Assista ao filme, avalie e chegue à sua própria conclusão.
Antes de ir fundo em minha análise, quero registrar que sou um “fã de carteirinha” do Gene Roddenberry. Em uma cena do filme “Star Trek: First Contact” há uma passagem que espero que venha se tornar realidade o quanto antes. O capitão Picard trava um diálogo com uma terráquea do século 21, Lilly, que pergunta quanto custou para construir a nave Enterprise. Ele diz que “a economia do futuro é meio diferente. (...) dinheiro não existe no século 24. A aquisição de fortuna não é mais uma motivação para nós. Procuramos nos aprimorar e ao resto da Humanidade”.
O ponto focal da minha análise não está no diálogo entre os personagens Picard e Lilly, nem na criatividade do idealizador do Facebook, muito menos em sua capacidade de interpretar o comportamento da juventude, como mostra a obra de David Fincher. Minha análise está calcada em dois aspectos. O primeiro na questão moral de toda essa construção e, principalmente, nos valores que são apresentados pela conduta de MZeus. A segunda está focada no Facebook como negócio e como é conduzida a sua exploração.
Neste momento, para mim, não vale a pena ter uma conta no Facebook. Pode até parecer ingenuidade minha ou radicalismo, o comportamento imoral contamina, principalmente os mais jovens, que buscam em Mark Zuckerberg uma fonte de inspiração e exemplo a ser seguido. Tenho uma reputação a zelar enquanto educador e empreendedor.
Porém, antes que comecem a falar que sou contra o capitalismo, que sou contra a inovação e a tecnologia, que sou retrógrado, da esquerda ou qualquer outra pecha, digo que sou contra quem explora os desavisados. Essa lógica é típica de gente gananciosa. Por isso o Picard entrou no texto. Não vejo a hora em que a Humanidade vai abrir mão dessa mesquinharia para se dedicar ao que realmente importa.
Por conta disso, se eu fosse Deus, apagaria o sol, as estrelas, acabaria com as flores e deixaria o tempo ainda mais quente. O Facebook acabou com a alegria da descoberta, não sem uma ajudinha de outros gananciosos do mundo da informática e das tecnologias de informação e comunicação. As amizades agora são bytes e as experiências sensoriais se reduziram a fotos e filmes. O toque, o carinho, o cheiro, o gosto e a alegria viraram meramente abreviações e “emoticons”. Não sei o que o Peter Drucker falou a respeito desses fenômenos para o futuro da Humanidade, quando a juventude, ao invés de estar brincando na rua, flertando e explorando a obra do Criador, está perdendo a vida no Facebook. MZeus e seus associados agradecem.
Segundo dados da revista IstoÉ Dinheiro (7/set/2011), o Facebook tem uma audiência cativa de 750 milhões de usuários em todo o mundo. E a empresa vale perto de US$ 66,5 bilhões. Audiência cativa é como pescaria em barril, onde o Facebook é o barril e os usuários são os peixes. Qual é a sua chance de escapar do anzol? Nenhuma. Mesmo que você não se interesse pela isca, é só puxar a vara que o anzol te pega em qualquer parte.
Aqui fora, no mundo real, quando você não quer ser fisgado pela propaganda ostensiva, basta, por exemplo, não assistir televisão, não ouvir rádio, não ler jornais ou revistas. Algo bastante fácil. Neste caso, você ainda goza de certo grau de livre-arbítrio. No Facebook, para se sentir aceito(a), você abre mão do livre-arbítrio. MZeus e seus clientes agradecem.
O Facebook é um negócio antes de ser uma rede social. E a finalidade de todo negócio é ter lucro. Você, usuário, é o cliente ou o produto do Facebook? Acertou se disse que é o produto. Clientes do Facebook são os anunciantes, os fornecedores de conteúdo, de games, mais recentemente as lojas virtuais e todo tipo de empresa que queira pagar boas somas para pescar no barril do Facebook.
O mais absurdo dessa história toda é que você está entregando a sua vida para o Facebook e, ainda por cima, pagando! Para o Facebook valer 66,5 bilhões de dólares, você entrou, até o momento, com pelo menos US$ 88,67. E o que ganhou em troca? Sua escravidão. MZeus e seus clientes agradecem mais uma vez.
MZeus não vai contar o pulo-do-gato para sua audiência cativa. Ele não é maluco! Vou contar um pouco do que sei sobre seu modelo de negócio e de sucesso. Se eu disser alguma besteira, então procure um amigo programador e ele vai te explicar melhor. Depois, você decide o que fazer com sua vida. O Facebook é um programa, um zilhão de rotinas e sub-rotinas que dão essa aparência quando você “entra” e possibilitam as infinitas formas de relacionamentos, curtições, cutucadas etc. etc. etc. Cada vez que você entra no Facebook, o que você redige, seu histórico de navegação, enfim, toda sua experiência na internet, está sendo monitorada e “informada”. Milagrosamente você vê anúncios subliminares de coisas que te interessam, que você tem afinidade. Por que será? “Ao curtir um post ou fazer um elogio, os consumidores passam um recado valioso que pode, em algum momento, se transformar em dinheiro no caixa das empresas” (revista IstoÉ Dinheiro de 7/set/2011).
É um negócio sensacional! Sou do tempo em que eram necessários vários formulários de cadastro, de lugares diferentes, para conhecer o seu perfil, para depois mandar mala direta ou catálogos. O Facebook é a fusão disso tudo em um único lugar. Fantástico! A diferença de ontem para hoje é que você podia jogar a mala direta fora antes mesmo de abrir. Você ainda detinha poder neste processo.
Depois de assistir ao filme, concluí que Mark Zuckerberg é um deus! Como o verdadeiro Criador, criou um mundo só para ele e nos oferece o paraíso da aceitação social por input.
Mas de onde vem o sucesso do MZeus e do Facebook? Será que vem da sua própria capacidade e competência em programação? Será que vem de sua assessoria altamente competente? De executivos bem formados e experientes no mundo dos negócios? Será que vem dos nerds de Harvard? Sim, vem de todos esses e muitos outros. MZeus, por ser jovem, entende como a juventude pensa e seus anseios, medos, desejos e necessidades. Mas mesmo com todo esse arsenal de gente, competências, capacidades e conhecimentos, o sucesso de MZeus, por incrível que pareça, está na sua entrada voluntária no Facebook e o fornecimento de seu perfil, desejos e sua rede de amigos. E você, o que ganha com isso? Não ganha nada.
Ainda segundo a matéria, “em 2010, a receita do Facebook foi de US$ 1,86 bilhão (...). Neste ano, deve alcançar a casa dos US$ 5 bilhões. A expectativa é de que 80% desse valor venha da área de publicidade e os 20% restantes devem ser obtidos pela área de entretenimento do site”.
Moral da história: minha mulher e eu somos neste momento ex-“Orkuteers” e ex-“Facebookeers”. Para nós, nada justifica o enriquecimento pela ganância, pela traição, por uma moral conveniente, por uma ética empresarial questionável e duvidosa, por esconder os reais objetivos do negócio e, principalmente, por enganar os ingênuos e desavisados. Profissionalmente, vejo o Facebook com um negócio sensacional, uma sacada de gênio. No entanto, todo o brilhantismo vai para o ralo por causa do seu caráter e incongruência.
Reflita sobre isso. A Humanidade está se perdendo na ganância para enriquecer, para acumular coisas, para ser bonito(a) e bem aceito(a) etc. A vida é aquilo que acontece enquanto você está conectado no cyberspace, no Facebook.
P.S. Se mesmo assim você decidir ficar no Facebook, então comece a cobrar pelas informações que você dá. Peça ao MZeus para compartilhar com você um pouco da riqueza que ele acumulou te explorando, ou caia fora do Facebook, para ele saber que você está consciente.
Veja também o link abaixo: